História

A vida antes dessa gestação não era perfeitinha não. Muitas pessoas me perguntam o motivo de tanta empolgação e de tantos registros da gravidez. Well:
- First: é meu primeiro filho, e como toda e qualquer mamãe de primeira viagem, fico iluminada de poder escreve sobre ele e a gestação para que, futuramente, não só ele, mas quem quiser, possa ler e se encontrar em meio as minhas poucas e bobas palavras. 
- Second: pois é, alguns já sabem... outros não... já perdi um bebe, então tudo o que aconteceu e acontece é emoção em dobro pra mim.

Esses dias, conversando com Mauro, veio o estalo de escrever pra vocês essa história dolorosa e complicada da nossa vida. Muitos já sabem o que aconteceu, mas ninguém sabe o que aconteceu ao fundo. Somos pouco discretos, eu assumo. Mas sempre foi um assunto bem delicado e uma ferida que nunca cicatrizou em mim. Então, me desculpem as palavras que virão. Eu espero que possa ajudar alguém que esteja passando por uma situação igual ou semelhante.

Vamos começar pelo começo:

Janeiro de 2013. Fazíamos muitas viagens pra Saquarema, onde passávamos vários finais de semana. Em algum deles eu ovulei, e engravidei. Sim, eu tomava anticoncepcional, e eu tinha a doce ilusão que um diazinho sem tomar não tinha problema, afinal, já fiquei vários "um dia" sem tomar em mais de um ano de namoro e nada nunca aconteceu. Por que agora? Por que comigo? Não sei. Deus, só ele sabe de tudo.
A minha menstruação veio "normal". Normal porque veio com cólica e essas coisas. E entre aspas porque veio um tom de sangue mais escuro que o normal, e ficou só 3 dias.
Chegou o carnaval, enchi a cara, dormi mal, me alimental mal e continuei tomando anticoncepcional. Não suspeitava da gestação. Os seios começaram a ficar doloridos (sintoma que não tive na atual gestação), e quando digo doloridos era uma coisa muito crazy, d'eu chorar no banho lavando os seios. A menstruação atrasou 1 semana, 2 semanas, 3 semanas... Eu fui deixando, nunca passou pela minha cabeça ter um bebe. Ai resolvi fazer um teste. Eis que o positivo surgiu logo depois que coloquei o teste na urina. Em segundos eu era mãe. Mauro ficou um pouco atordoado, mas dormimos bem, confortados um com o amor do outro. Sabe, uma coisa que me orgulho muito dessa história toda, foi de ter me dado conta do amor que sinto por ele, e do que ele sente por mim. Ele, em momento algum balanceou, ficou do meu lado o tempo todo. E depois do susto, ficou tão empolgado e feliz quanto eu.
No dia seguinte, era uma sexta-feira, fizemos mais dois testes para confirmar, e mais dois positivos pra minha coleção. Então resolvemos contar logo pra família, três testes não costumam falhar né. No sábado fiz o beta, e a felicidade era geral.
A semana seguiu bem, avisei no trabalho, comecei a tomar alguns cuidados. Fui na primeira consulta com a obstetra (que por sinal eu amei na primeira consulta), lá ela me passou uma ultra, já que não me lembrava o último dia da menstruação não tinha como confirmar a DPP.
Fomos na ultra, foi o dia mais feliz das nossas vidas, ouvir aquele coração batendo forte foi, de longe, o som mais lindo que já ouvi na vida. Sim, meus amigos, eu quis esse filho, eu amei esse filho, eu, logo eu, que nunca fui contra o aborto, me vi em uma situação desesperadora, e amei. Eu esqueci de tudo naquele minuto, como se o tempo congelasse, e foi lindo.
Na consulta com a obstetra dois dias depois, senti minha calcinha molhada, bem, não comentei nada com a médica porque ela foi toda fria e grossa, e poxa, era nosso segundo encontro... Quando cheguei na casa dos meus pais fui fazer xixi e lá estava, uma macha vermelha na calcinha. Voltei correndo no consultório e a médica, sem me examinar ou olhar a calcinha, falou que era normal e me mandou voltar pra casa e ficar de repouso. Alô! Eu trabalho, não posso ficar de repouso sem atestado.
No dia seguinte, achei que o sangramento havia parado, e fui trabalhar. No meu trabalho, tentei o máximo ficar sentada. E comecei a sentir a calcinha muito molhada, quando fui ao banheiro, bateu um desespero, depois de chorar alguns minutos sozinha, fui pra loja, liguei pra minha patroa (que não me liberou, e ainda mandou eu esperar a outra vendedora chegar porque a loja não podia ficar fechada) e pro Mauro. Na mesma hora fechei a loja, taquei o foda-se pro trabalho e um oi pra minha saúde. Peguei um taxi com a ajuda de uma cliente e fui pro hospital encontrar o papai.
No toque meu colo ainda tava fechado, então veio aquele suspiro de esperança. E ai veio a ultra. Eu não via nem ouvia nada. A única coisa que vi, e que na hora me deu um aperto no coração, foi o Mauro colocando as mãos na cabeça e caindo no chão. Nunca esqueci essa cena. Saímos de lá arrasados.
A médica passou 15 dias em casa e um remédio pra que o feto saísse sozinho. Porém, nada aconteceu. A minha sorte é que um anjo apareceu na nossa vida. O primo do Mauro, Thiago, mandou eu ir para o Hospital da Mulher em Bangu, e procurar uma médica chamada Luciene. Ela no mesmo dia me internou e fez um procedimento chamado Amiu, é diferente da curetagem, não machuca o útero e a recuperação é muito mais rápida. Saí na manhã seguinte e fui recepcionada com um café da manhã maravilhoso com o papai, mamãe, marido e sogra.

Você acha que ai acabou o pesadelo? Não mesmo, ai que começou tudo. Foram dias inconformada, pensando no que eu tinha feito de errado, me culpando todas as noites, chorando sempre que tinha oportunidade. Todos os dias em minhas orações eu me perguntava por que eu ou o que eu tinha feito em outra encarnação ou nessa pra merecer isso. Não foi fácil.
Não tomei remédio por um bom tempo, e nada de engravidar. Sim, eu quis tentar de novo. Podem me julgar a vontade, tô nem ai. Só quem viu meu desespero, minha agonia, minha dor vai entender. A pior coisa do mundo é vir aquela pessoa que não tem ideia do que a situação representa pra você, dar palpite. Falar que você tem a vida inteira pela frente, que muitos virão. Uma dica: se você conhece alguém que está passando por essa situação, não diga nada, só diga que foi a vontade de Deus. Qualquer coisa além disso, revolta ainda mais.
Vou ser sincera, parecia que quanto mais tentava, mais Deus falava: não é na hora que você quer, vai ser na hora que eu achar que deve ser.
Durante 3 meses nem sinal da minha menstruação. Tá achando que engravidei? HAHA, no way. Era meu útero cicatrizando. E pra menstruação descer eu sofri, sofri muito. Uma dor absurda, eu mal conseguia sentar ou ficar em pé. Pior sensação da vida. Pior que abordar (já que não senti dor alguma)!
Com muitas dores, fui correndo pra emergência. Chegando lá fiz exame de sangue, ultra e na hora da médica falar qualquer coisa, veio o "baque", de acordo com ela eu teria que fazer outra curetagem, pois ainda haviam restos do bebe dentro de mim. Eu não acreditei! Chorava horrores. Foi ai que aprendi a não confiar nos médicos da emergência.
Liguei pra Luciene, e ela pediu pra que eu ficasse calma, me medicou e pediu repouso. No sábado me atenderia no consultório dela. Chegando lá, ela fez vários exames, e veio a resposta: menstruação retida. Eu fiquei 3 longos meses sem menstruar, tinha aquilo tudo pra descer e tava um pouco condensado, daí o útero se contraia com mais força pra expelir.
Essa cólica forte ficou comigo até recentemente. Sempre sofri com cólica, mas depois da operação ficou ainda mais forte. Na verdade, algumas coisas melhoraram, por exemplo a tpm, outras pioraram, rs. Nem tudo é perfeito né.

Como todo mundo sabe, vamos casar em Outubro desse ano. Chegou novembro e eu resolvi voltar a tomar o anticoncepcional, mas não queria mais menstruar, então comecei a tomar o Elani28. Olha, tem muita gente que gosta dele, meu organismo não se adaptou a ele, não. Passava muito mal, muito enjoo de manhã e quando tomava a noite o desconforto era maior.
Resolvi parar e decidi que ia tomar injeção, mais seguro e eficaz. Não queria ter um bebe no mês do casamento, então janeiro seria o mês do "todo cuidado é pouco". Mas não chegamos até lá, meu amigos. Em dezembro, dia 03. Minha última menstruação. Os 3 primeiros dias estava tudo normal, no 4º dia veio uma borra marrom, e ela foi embora no dia seguinte. Estranho, mas achei que ainda era algo do remédio. Daí em diante eu e Mauro nos precavemos, no mês seguinte tomaria a injeção e tudo ficaria bem, tudo voltaria ao normal.
No natal, minha vontade de chorar era muito grande. Eu achei que já tinha superado, mas aquele seria o primeiro natal com meu filho! Meu luto voltou. Foi horrível. Não me aguentei. Fiquei a semana inteira conversando com o Mauro antes de dormir, chorando.
Sou kardecista, mas isso não quer dizer que tenho todas as respostas para todas as perguntas. Nunca me explicaram o motivo disso tudo. Só me falavam que ele cumpriu o que tinha vindo fazer, que eu ajudei um espírito a evoluir. Que ele se sentiu muito amado (e foi!), e que ele voltaria pra nós um dia, que não era pra mudarmos o nome.
No dia 30/12, chorei muito e falei pro Mauro: "amanhã fico menstruada, queria que o bebe estivesse com a gente". Mal sabia eu que ele já estava ali fazia um tempinho. Menstruação atrasada, eu achei que fosse ansiedade. Não, não era. Os testes não ajudavam, e quando saiu o resultado do exame de sangue foi perfeito.
Parece que todas as lágrimas valeram a pena. Todo sofrimento, toda dor. Tudo desapareceu. Tudo começou a fazer sentido. Ele estava aqui com a gente. Não foi no momento que eu quis, na verdade, foi no momento que eu menos quis. Foi no momento que Deus achou melhor.
Hoje, cá estou, feliz, completa, realizada e assustada. Louca pra poder pegar no colo, pra poder chamar pelo nome.

Nossa história não é das mais bonitas, não daria um bom filme ou livro, mas me ajudou muito a melhorar quem eu era. Sei que foi pra melhorar alguma coisa, seja em mim ou em qualquer pessoa próxima, que ela aconteceu. E elaaconteceu com a permissão de Deus. E se Ele permitiu, é porque eu necessitava passar por isso.

As mamães que estão passando por algo parecido, não se preocupem, toda dor melhora, mas nunca sara. Até hoje penso naquele bebe, se era menino ou menina, se não merecia uma chance de viver. Mas hoje é mais fácil ver essa história como um aprendizado, e não como punição.

Espero ter ajudado a alguém. Um beijo, Jéssica.